segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Monika e o Desejo

Monika e o Desejo
Direção: Ingmar Bergman
Ano: 1953


Sobre a Marcação de Cena


Em Monika e o Desejo, de Ingmar Bergman, 1953, não existe uma marcação de cena bem definida, o que existe é certa “liberdade” dos atores para se posicionarem frente às câmeras. Esta “brecha” na marcação de cena, talvez tenha ocorrido em virtude de uma decisão de Bergman quanto ao posicionamento dos personagens. Monika, interpretada por Harriet Andersson tem uma gesticulação e falas bastante exageradas. E ao contrário dela, Harry, interpretado por Lars Ekborg, é um personagem que se mantém contido em toda a duração do filme, ficando sempre com as mesmas expressões, desde quando foi demitido do emprego, até quando teve uma filha.
Talvez essa falta de marcação nas expressões e nos diálogos dos atores realmente tenha sido o pecado do filme, mas ainda existe um aspecto em que o posicionamento dos próprios atores ajudou na composição do filme. Para contar esta história de dois pós-adolescentes que foram de certa forma, inconseqüentes, Bergman parece ter usado justamente esta falta de experiência dos atores na vida real, para o filme, ou seja, os dois não usufruíram de uma direção de ator e marcação de cena e sim, das próprias experiências (ou falta delas) da vida real, como mostra no filme, alguns exemplos bem comuns na vida de adolescentes, como problemas com os pais, que é mostrado na vida de Monika, na sequência de acontecimentos que a faz sair de casa para ir morar com Harry. Além disso, o assédio que acontece com Monika na quitanda em que trabalha, apesar de não ter tido movimentação marcada, ilustrou bem o comportamento da personagem, os atores tem uma relação de interpretação e sacadas boas de movimentação, suas ações mostram bem quem é, e quem foi a Monika, antes e depois de Harry: como ela mesma diz “Estou namorando sério, agora”, ou seja, “hoje não posso ser tocada”.
Outro aspecto na “não marcação de cena” são os momentos em que Harry está no trabalho. Ele é sempre muito contido, mesmo quando seus superiores dão bronca e o insultam. Harry, apenas deixa sair umas palavras de raiva. Em praticamente todas as cenas em que Harry está trabalhando, ele está de costas para seus chefes e de frente para a câmera. Todos os outros homens que estão no recinto, estão virados de frente e olhando para ele, portanto, também estão de frente para a câmera, ou seja, esta cena mostra a disparidade com que Harry é tratado naquele lugar. Se os atores tivessem se movimentado mais, naquela cena, se tivessem sido mais dinâmicos, talvez esta cena nunca teria dado a impressão de que não gostam dele naquele ambiente.
Para mostrar o outro lado de Monika, a cena em que ela é acordada pela mãe, em sua casa, além de ser uma bagunça, onde o espectador não sabe exatamente o que está acontecendo, teve um movimento bom de Harriet e da mulher que interpreta sua mãe. Na cena, ela dorme em um colchão que fica no meio da sala, que também é cozinha. Já acorda fumando e gritando com os irmãos. Logo, vai para a janela de camisola, sempre gritando e ditando regras para os irmãos, que não tem participação alguma nas ações da cena (este foi o mau da cena, já que as crianças poderiam ter sido dirigidas e então poderiam interagir com Harriet, o que não aconteceu). Mesmo assim, o modo como a Harriet se movimenta nesta cena, mostrou bem o comportamento contrário dela na presença de seu namorado, Harry. Ou seja, mostra o outro lado de Monika.
Um ponto curioso neste filme, já que não tem marcação de cena, são os super-closes que Bergman faz de Monika e também de Harry. Nestes closes, não sabemos se os personagens olham mesmo para a câmera ou olham para o vazio, além da câmera. É bastante interessante de se pensar em como eles construíram esta cena, já que de alguma forma, quando o diretor faz um close, o que ele quer é uma expressão bem marcada e, neste filme, isso não ocorre.
Finalmente, apesar de ter seus altos e baixos, o filme teve sorte em alguns aspectos, por não ser marcado pelo diretor. A partir do momento em que a liberdade de construção dos personagens foi para os atores, eles conseguiram entrar de cabeça na movimentação e na marcação de seus atos.

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